O jornal El País, de hoje, ultimo dia de maio, estampa em manchete de primeira página que as ultimas pesquisas para a eleição de 7 de junho, ao Parlamento Europeu, dão ao Partido Popular, de direita, uma vantagem de 4 pontos sobre o Partido Socialista, do primeiro ministro Rodriguez Zapatero. Como entender isso? Como se sabe o Partido Popular esteve durante oito anos no governo e foi um dos principais incentivadores da escalada da especulação financeira e do predomínio do cassino financeiro, que afinal terminou por conduzir o mundo todo à atual situação de crise. O Partido Socialista, que se encontra a cinco anos no poder, não foi o responsável pela crise, apesar de não ter enfrentado, como devia, a especulação imobiliária, raiz da forte crise que atualmente assola a Espanha. Que propõe o Partido Popular e que tanto encanta os espanhóis? Na verdade não ataca a especulação financeira, cala-se convenientemente sobre os desmandos dos mercados, e propõe apenas, para conter a sangria do desemprego, com mais de 4 milhões sem trabalho, que o governo faça a reforma trabalhista. Que reforma trabalhista propugna? Ora, nada mais nada menos que a flexibilização nas relações de trabalho. E o que significa isso? Na verdade significa possibilitar a admissão sem contrato de trabalho, a não concessão de direitos sociais de previdência, a redução de salários abaixo do mínimo exigido em lei e a demissão sem justa causa com não pagamento de direitos trabalhistas consagrados na legislação vigente. Ou seja, facilidade para maior dispensa de empregados. Argumenta que criar facilidades para a contratação – não fala obviamente em facilidades para dispensa – reduz custos para as empresas, que se sentiriam estimuladas a contratar e assim o desemprego seria reduzido. Ou seja, facilita a vida para as empresas e piora a vida para os assalariados. Bela reforma! A pesquisa indica 43% dos votos para o Partido Popular, 39 % para o Partido Socialista, 5% para a Coalizão por Europa (integrada por Convergência e União, Partido Nacionalista Vasco e Coalizão Canária – grupos nacionalistas de centro-direita da Catalunha, Pais Vasco e Canárias), 4% para a Esquerda Unida (antigo Partido Comunista), 4% para a Europa dos Povos – Verdes (aliança formada pela esquerda verde da Catalunha, Galícia e País Vasco) e 3% para União Progresso e Democracia, um partido de direita formado recentemente no Pais Vasco. Pelas informações da imprensa européia, parece que essa situação de amplo favoritismo da direita não se resume apenas à Espanha, mas se configura nos demais países da Europa Unida, inclusive países como a Suécia, onde a social-democracia sempre foi força política dominante. Que está havendo? Como entender tudo isso? Creio que a resposta se encontra na profunda descaracterização dos partidos social-democratas europeus, que sob forte pressão ideológica do neoliberalismo hegemônico, desde os dois últimos decênios do século XX até hoje, passaram a adotar, quando no governo, as políticas ditadas pela direita, fazendo-se igual ao adversário, e assim perdendo-se no julgamento da cidadania.