Durante anos reinou absoluto. Criou no México uma organização católica poderosa – “Legionários de Cristo” – que hoje conta com mais de 800 sacerdotes e 2500 seminaristas, distribuídos em diferentes países. E chegou a ser homem da mais absoluta confiança do Papa João Paulo II, e forte candidato à beatificação e à santidade. Einstein ironizou que Deus não joga os dados, porém às vezes escreve certo por linhas tortas. Talvez pensou o mesmo o poderoso cardeal Joseph Ratzinger, hoje Papa Bento XVI, quando tomou, em 19 de fevereiro de 1999, a decisão de não incomodar o fundador dos “Legionários de Cristo”, o carismático sacerdote Marcial Maciel (MM). Ratzinger então atuava como presidente da Congregação para a Doutrina da Fé. Sobre a mesa do hoje Bento XVI acumulavam-se dezenas de denuncias contra Maciel, por pederastia e abusos sexuais. Porém o homem dos “Legionários de Cristo”, íntimo amigo do Papa João Paulo II, venerado como um santo, era ainda muito forte para ser incomodado. Mortos os dois – o papa polonês em 2005 e Maciel em 2008 – o Vaticano ordena agora uma investigação nos “Legionários de Cristo”. As acusações são pesadas: abusar durante décadas de alguns de seus seminaristas e de ter uma filha com uma amante. A filha tem rosto, e o Vaticano, com medo do escândalo, não quer ser pego de calças curtas. O cardeal Tarcisio Bertone, número dois do Papa Bento XVI, foi chamado a cuidar do assunto. Primeiro com uma visita ao México, em fins do ano passado. Depois em Madrid, em fevereiro último, onde parece residir a filha secreta do fundador dos santos legionários... Com a investigação – “visita apostólica” no jargão dissimulador do Vaticano – a cargo de uma equipe de prelados, o Papa busca limpar a cara dos “Legionários”. A outra alternativa era a dissolução, porém Marcial Maciel teceu uma ampla via de conglomerados de órgãos – universidades, colégios, centros assistenciais, etc – fazendo muito difícil a eliminação sem causar danos a terceiros e à própria Igreja Católica. Não se pode ofender impunemente os “Milionários de Cristo”, dizem alguns dos observadores independentes... A pederastia e os abusos sexuais do fundador legionário já foram investigados entre outubro de 1956 e fevereiro de 1959. Durante esse período Maciel foi suspenso como superior geral, mas não resolveu nada. Alexandro Espinosa, um dos denunciantes de Maciel, compara a “negligência e cumplicidade” das autoridades vaticanas com a atitude dos políticos atuais diante dos “paraísos fiscais”. Então, o que argumentou o cardeal Ratzinger, hoje Papa Bento XVI, foi que: “não se podia processar a um amigo tão próximo e confessor do Papa, como Maciel”. Maciel, que faleceu em fins de fevereiro de 2008 nos Estados Unidos, nasceu em Michoacan, no México. Em 1941, com apenas 21 anos, fundou os “Legionários de Cristo” e, três anos depois, se fez sacerdote e criou o “Regnum Christi”, o corpo laico da ordem. O Vaticano aprovou seus estatutos em 1983. Os “legionários” estão presentes em 18 países e na Espanha, por exemplo, têm o apoio dos cardeais Rouco, Cañizares e Garcia-Gasco, máximas autoridades da igreja católica espanhola, empedernidos conservadores, hostis ao governo socialista de Rodriguez Zapatero e lutadores extremados contra o aborto e o uso da camisinha nas relações sexuais... É preciso dizer mais alguma coisa? Na Espanha os “Legionários de Cristo” contam com seminários em Ontaneda (Cantábria) e Moncaba (Valência) e possuem a Universidade Francisco de Vitória, em Pozuelo (Madrid), e a rede de colégios Everest e Cumbres, a organização Higlans, a cadeia de centros “Mano Amiga” e a agência de noticias Zenit. Ou seja, pobrezinhos e coitadinhos! É para morrer de rir. Vamos ver como fica esse rolo. Querem a minha opinião sobre o resultado? Eu digo: “Não vai dar em nada!” Querem saber se a luta pela verdade e a justiça vale a pena ? Eu digo: “Sim. Mil vezes sim. Água mole em pedra dura, tanto bate até que fura...”